sábado, 29 de junho de 2013

Cantos de atividades

 
COMO E POR QUE ORGANIZAR CANTOS DE ATIVIDADES
DIVERSIFICADAS NO 1º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
Prof. Denise Tonello
Antes de saber mais sobre as atividades diversificadas, releia o trecho a seguir, da reportagem publicada na revista Projeto Presente, da Editora Moderna:
As Diretrizes Curriculares para as crianças de seis anos de idade
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil fornecem elementos importantes para a revisão da Proposta Pedagógica do Ensino Fundamental, que agora incorpora as crianças de seis anos de idade:
• As propostas pedagógicas para essa faixa etária devem considerar os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivolinguísticos e sociais da criança, entendendo que ela é um ser total, completo e indivisível.
• Devem, também, buscar a integração entre diversas áreas do conhecimento e aspectos da vida cidadã como conteúdos básicos para a constituição de conhecimentos e valores.
• As estratégias pedagógicas devem evitar a monotonia, o exagero de atividades acadêmicas ou de disciplinamento estéril.
• As múltiplas formas de diálogo e interação são o eixo de todo o trabalho pedagógico. Assim, o papel do professor é o de “provocar”, brincar, rir, apoiar, acolher, estabelecer limites, observar, estimular e desafiar a curiosidade e a criatividade. É sua função envolver-se com cada aluno, reconhecendo suas conquistas individuais e as coletivas, sobretudo as que promovam a autonomia, a responsabilidade e a solidariedade.
• Cabe à escola e aos professores elaborar uma proposta pedagógica que contemple a organização do espaço e do tempo na escola, os materiais necessários e as parcerias com a família de cada criança.
Quem é a criança de seis anos?
A experiência prática e as pesquisas permitem-nos destacar algumas características marcantes dessa criança. Imaginativa e curiosa, ela busca conhecer o mundo por meio de brincadeiras.
Tem capacidade de simbolizar e compreender o mundo que a cerca, estruturando o pensamento e fazendo uso de múltiplas linguagens – o que facilita a participação em jogos que envolvam regras e, por meio deles, a apropriação de conhecimentos, valores e práticas sociais válidos na nossa cultura. Essa é uma fase crucial na vida da criança, em que ela constrói sua autonomia e identidade.
As crianças de seis anos e as implicações para o trabalho pedagógico
Assim, o ideal é pensar em propostas que integram as diferentes áreas do conhecimento, aliando o que se ensina às necessidades desta faixa etária.
É importante que o professor possa conhecer cada aluno, seus avanços e suas dificuldades para que possa intervir de maneira eficaz. Isso implica um desafio para toda a equipe pedagógica. Pois não adianta imaginarmos uma organização como a Educação Infantil, mas, considerando que as crianças têm apenas 6 anos, também não podemos pensar em um formato de Ensino Fundamental.
É necessário assegurar que a transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental ocorra da forma mais natural possível, não provocando rupturas e impactos negativos no processo de escolarização da criança. Assim, as escolas organizadas pela estrutura seriada não devem transformar esse novo ano em mais uma série com as características e a natureza da primeira série tradicional.
O currículo para o primeiro ano deve ser organizado em três grandes áreas:
• Ciências Sociais e Ciências Naturais
• Noções Lógico-Matemáticas
• Linguagem
Para garantir uma aprendizagem significativa e favorecer um melhor aproveitamento por parte das crianças é necessário organizar o tempo didático de modo planejado e intencional. Isso significa que cada proposta de sua rotina com as crianças deve ser pensada em consonância com os objetivos e necessidades mencionados no texto acima e em todos os textos indicados para leitura dos módulos anteriores.
De acordo com Délia Lerner, pesquisadora e educadora argentina, há diferentes modalidades organizativas do tempo didático. Em alguns momentos, o professor pode trabalhar com atividades permanentes que ocorrem dentro de uma regularidade de tempo. Em outros, com projetos ou sequências didáticas, quando geralmente objetiva abordar conteúdos mais específicos. Há ainda as situações independentes e ocasionais.
A proposta de atividades diversificadas é também uma das modalidades de organização do tempo didático em que, a partir de um leque de diferenciadas atividades oferecidas ao mesmo tempo, a criança escolhe qual irá realizar.
Esses momentos devem ocorrer diariamente e costumam durar cerca de 40 a 60 minutos; devem ser cuidadosamente planejados e organizados de modo a contemplar oportunidades de aprendizagem para as crianças.
Numa sala de aula com 30 a 35 crianças, fica difícil pensar em conseguir acompanhar o processo de aprendizagem de cada uma delas. Porém, se garantimos como parte da rotina, momentos diários em que as crianças realizem atividades diferenciadas em grupos de cinco a seis crianças, você, professor(a) terá a oportunidade de, a cada semana, acompanhar as dificuldades e os avanços, além de realizar intervenções significativas que contribuam individualmente com a aprendizagem de cada um de seus alunos.
De acordo com uma publicação da revista Avisalá, “a organização do trabalho deve possibilitar que as crianças sejam atendidas:
_ Individualmente pelo professor;
_ Em agrupamentos definidos pelo professor para compartilhar desafios propostos por ele;
_ Em situações nas quais possam escolher com quem trabalhar e quais desafios desejam resolver;
_ Coletivamente em situações de convívio, brincadeira e sistematização de produções do grupo.
Com essa modalidade de organização podemos garantir que as crianças vivenciem diferentes situações de aprendizagem, escolhendo, exercitando a autonomia e buscando conhecer as próprias necessidades, preferências e desejos ligados à construção de conhecimento e ao relacionamento interpessoal.
Assim, esse tipo de proposta tem função decisiva na formação pessoal e social e na construção da autonomia da criança, uma vez que prescinde de um controle direto do professor. Por outro lado, permite que ele observe mais atentamente os problemas enfrentados pelas crianças, suas dificuldades, aprendizagens, gostos e interesses, o que muito o auxiliará em seu replanejamento.
São várias as teorias, de educadores renomados, que embasam e justificam as vantagens da organização e realização de atividades diversificadas. É importante ter clareza, no entanto, de que tais práticas devem ser inseridas num plano pedagógico mais amplo, ou seja, não vamos basear nossa prática na visão de um único educador. Mas é importante você compreender porque algumas das maneiras de organizar a gestão do tempo e do espaço fazem sentido e quais as teorias que dão sentido ao que estamos propondo.
Tratando-se da proposta de “atividades diversificadas” podemos nos reportar a Freinet, Froebel, Piaget e Wallon. Algumas passagens do texto a seguir foram baseadas num encarte publicado pela revista Nova Escola, da Editora Abril: Os grandes pensadores da Educação.
Para Wallon, o grupo social é indispensável à criança, não somente para sua aprendizagem social, mas também para o desenvolvimento da tomada de consciência de sua própria personalidade. A confrontação com os companheiros permite constatar que ela é uma entre outras crianças e que, ao mesmo tempo, é igual e diferente delas.
Nesse sentido, atividades em que a criança pode se deparar com opiniões diferentes são essenciais para seu desenvolvimento.
O educador francês Freinet criou recursos como, por exemplo, as aulaspasseio e os cantos diversificados e temáticos na sala de aula para atingir um objetivo maior que é o despertar, nas crianças, de uma consciência de seu meio, incluindo os aspectos sociais e de sua história.
Já o alemão Froebel acreditava que as crianças trazem consigo uma metodologia natural que as leva a aprender de acordo com seus interesses e por meio de atividades práticas. Ele combatia o excesso de abstração da educação de seu tempo, argumentando que tal excesso afastava os alunos do aprendizado. Adotava, assim, a idéia contemporânea do “aprender a aprender”. Para ele, a educação se desenvolve espontaneamente. Quanto mais ativa é a mente da criança, mais ela é receptiva a novos conhecimentos. O caminho para isso seria deixar a criança livre para expressar seu interior e perseguir seus interesses.
Isso ocorre quando o professor organiza situações didáticas em que privilegia o relacionamento com colegas, objetos, adultos, oportunizando à criança ampliar e reajustar seus conhecimentos. Propostas diversificadas contemplam também este objetivo.
Finalmente podemos nos reportar à teoria de Jean Piaget, um dos educadores mais influentes no campo da educação, que provou na prática um mecanismo que outros pensadores já haviam intuído: de que o conhecimento se dá por descobertas que a própria criança faz. O aprendizado é construído pelo aluno e foi essa sua teoria que inaugurou a corrente construtivista. Educar, para Piaget, é “provocar a atividade” – isto é, estimular a procura do conhecimento. “O professor não deve pensar no que a criança é, mas no que ela pode se tornar”, diz Lino de Macedo.
As descobertas de Piaget tiveram grande impacto na pedagogia, mas, de certa forma, demonstraram que a transmissão de conhecimentos é uma possibilidade limitada. Por um lado, não se pode fazer uma criança aprender o que ela ainda não tem condições de absorver. Por outro, mesmo tendo essas condições, a criança não vai se interessar a não ser por conteúdos que lhe façam falta em termos cognitivos.
E o que isso significa? Significa que, nessa faixa etária, a escuta passiva, em que as crianças somente ouvem informações que são passadas pelo professor, não contribui para a aprendizagem. Há a necessidade, por mais difícil e trabalhoso que possa parecer, de planejar situações em que a criança possa agir, refletir, experimentar, desestabilizar-se e, em consequência disso tudo, ter uma aprendizagem realmente significativa, pois o professor oportunizou situações em que ela pôde, de fato, a partir da interação com o meio, com seus colegas e com o professor, construir seu conhecimento.
 
Pensando na organização e em diferentes propostas para as atividades diversificadas:
Este tipo de organização geralmente já ocorre nas turmas de Educação Infantil. No entanto, no Ensino Fundamental, é comum o professor acreditar que, o fato de a criança escolher, não garante que ela faça todas as propostas. Assim você pode pensar que atividades que precisam ser acompanhadas pelo professor só podem ser propostas ao mesmo tempo para todo o grupo.
No entanto, há possibilidades de contratos didáticos prévios em que cada criança se responsabilize pela realização de todas as atividades.
Uma possibilidade de organização, então, é combinar previamente com seus alunos quais as atividades que são “obrigatórias” e quais eles podem escolher. É interessante e importante que além da possibilidade de escolha, a criança possa também responsabilizar-se pelas propostas que necessita dar conta, mesmo quando tem maior dificuldade.
As atividades pensadas para essa faixa etária podem ser as mais variadas e devem estar relacionadas aos conteúdos trabalhados no momento. Como critério de escolha, você pode sempre pensar em atividades de:
  Escrita – em que a criança possa refletir sobre suas hipóteses de escrita a partir de intervenções do professor, ou a partir da interação com os outros colegas que pensam de maneira diferente.
  Matemática – uma situação problema que pode ser solucionada em grupo, ou individualmente (e que será retomada numa roda de correção coletiva, por exemplo, para que as crianças tenham a oportunidade de explicar como chegaram a determinado resultado), ou um jogo com registro escrito de números.
  Jogos – que garantam a autonomia, o respeito às regras, além de conhecimentos relacionados a determinada área (Matemática, Escrita ou Leitura, Arte etc.).
  Arte – organizar diferentes possibilidades de fazer Arte (caixa com imagens de obras de Arte, fotografias, imagens de animais, objetos ou pessoas; caixa com materiais diversos organizados em estojos ou potes como lápis, giz de cera, canetinhas, lápis carvão, giz de lousa e giz pastel; caixa com materiais para colagem, como: fita crepe, colas, tesouras; caixas com tintas variadas: guache, tinta aquarela, tinta plástica, por exemplo). Esse material não precisa estar sempre todo à disposição; dependendo da proposta, você pode selecionar o que as crianças irão utilizar. O mais importante é que haja uma organização prévia e que os materiais sirvam de referência para criarem ou enriquecerem a própria produção.
  Leitura – dispor diferentes portadores escritos para que as crianças possam realizar uma pseudoleitura de poesias que já sabem de cor, de notícias de jornal que já foram lidas nas rodas, de histórias de repetição que já conseguem recontar, ou de textos informativos que trazem informações sobre um assunto estudado e em que as crianças poderão tentar intuir as informações das imagens, ou legendas para que depois possam ser comprovadas ou refutadas numa leitura realizada pelo professor, também num momento coletivo.
 
Estas realmente são apenas algumas sugestões!
Não há uma rigidez na organização das atividades! Você pode ter duas atividades relacionadas à Matemática, ou escrita, ou duas de jogos – uma relacionada ao jogo e a outra, por exemplo, relacionada à soma dos pontos do jogo vivenciado no dia anterior.
O mais importante de tudo: lembre-se de que esse será um momento “especial” e você poderá dar uma atenção mais individualizada a um grupo bem menor de alunos, realizar interferências mais pontuais e acompanhar o que sabem e o que não sabem, atuando de maneira mais pontual e conhecendo de maneira mais consistente a cada um de seus alunos.
 
Sintetizando:
 Cantos de Atividades Diversificadas
Objetivos Didáticos:
(ou o que o professor espera que as crianças aprendam)
 
  Escolher com autonomia tendo suas decisões respeitadas e apoiadas pelos adultos.
  Realizar ações sozinhas ou com pouca ajuda do adulto e de outros parceiros.
  Valorizar ações de cooperação e solidariedade, desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração, compartilhando suas vivências.
  Relacionar-se com os outros, adultos e crianças, demonstrando suas necessidades, interesses, gostos e preferências.
 
Cantos de Atividades Diversificadas
Conteúdos:
  Participação em situações de brincadeiras e jogos nos quais pode escolher parceiros.
  Participação em situações que envolvam a combinação de algumas regras e convivência em grupo e aquelas referentes ao uso dos materiais e do espaço, quando isso for pertinente.
  Valorização dos cuidados com os materiais de uso individual e coletivo.
FONTE DE PESQUISA:
www.ibmcomunidade-kidsmart.com (para consultar RCNEI MEC, Parâmetros Curriculares, Manual
da Formação KidSmart Brasil – 2002, Fórum de discussão e demais materiais de apoio a formação)
www.institutoavisala.org.br (para consultar antigas edições da revista Avisalá)
 
BREVE SÍNTESE E UMA ATIVIDADE PARA VOCÊ REALIZAR
ORALMENTE, APÓS A LEITURA...
 
Quando organizamos atividades diversificadas em sala, contribuímos para o desenvolvimento da autonomia, pois a criança tem a oportunidade de escolher a atividade que quer fazer naquele momento, além de possibilitar que a aprendizagem aconteça a partir da interação e da ação das próprias crianças.
Se as propostas e os materiais à disposição estiverem organizados de maneira a favorecer a autonomia, a criança não necessitará ser dirigida diretamente pelo adulto.
Assim, o professor tem a condição de supervisionar e acompanhar somente um pequeno grupo de crianças para interagir e intervir em suas dificuldades e acompanhar, ao longo do período letivo, as evoluções conquistadas por cada um.
Numa sala com muitas crianças, pensar em momentos como esses garantem um acompanhamento mais próximo de cada aluno!
 
 
 
 
 
 
 

A Criança de seis anos no Ensino Fundamental

CRIANÇA DE SEIS ANOS E A ESCOLA

Dayse Gonçalves
 
A criança de seis anos está numa fase de transição muito importante. Tem demandas que precisam ser consideradas, como o direito de brincar, de criar e de se expressar, de se relacionar e de construir uma alta auto-estima. E também tem o direito de vivenciar, no ambiente escolar, experiências que lhe permitam se aproximar dos saberes construídos socialmente. Aos seis anos, pode-se dizer que muitas crianças já têm alguma experiência escolar. Muitas freqüentaram creches ou berçários, outras passaram por escolas de Educação Infantil. As que não viveram o que chamaríamos de segunda socialização – a primeira diz respeito à experiência familiar - construíram repertório na interação com os adultos e as outras crianças de seu convívio. Por essas razões, todas trazem na bagagem saberes e habilidades e algumas representações sobre "escola", sobre relação professor-aluno, sobre a relação com outras crianças. Além disso, têm muitas expectativas sobre o que as espera nesse novo espaço educativo. As crianças sabem que lá vão aprender muitas coisas, sendo a mais importante – para elas, obviamente, nesta idade – ler e escrever. Ou, melhor, intensificar a formalização e ganhar autonomia de leitura e escrita uma vez que na aprendizagem não se reduz às crianças de seis anos. Sabem também que enfrentarão muitos desafios, mas anseiam pelo ingresso no 1o. ano com tudo que essa nova etapa de suas vidas e da escolaridade representa. Nós, professores, sabemos também que podemos, com vontade política e planejamento, mostrar às crianças que na escola elas podem muito mais. Podem se relacionar de maneira alegre, construtiva e respeitosa com seus pares e com os adultos. Podem aprender que a palavra, por meio do diálogo, é o melhor instrumento para comunicar sentimentos, desejos e, por que não, conhecimentos. Podem aprender que nesse espaço suas idéias e suas necessidades são respeitadas e com isso têm a chance de construir uma relação muito positiva com o conhecimento.
Esta entrada no Ensino Fundamental – que deveria ser "triunfal", em todos os sentidos –, certamente marcará a relação da criança com a vida escolar. As primeiras experiências são sempre fundamentais, por essa razão é preciso que essa etapa seja preparada com cuidado e carinho, tanto por parte dos pais como dos professores. Como vivemos num país gigante em termos de riqueza e diversidade cultural, é preciso considerar o contexto em que as experiências se darão. Tentar trazer para o espaço da escola a larga e rica experiência, hábitos e costumes das crianças e de seus familiares, dando espaço para que re-signifiquem seus valores, enfim, aquilo que os constitui em termos de identidade cultural. Isso pode se traduzir em projetos de trabalho que permitam encontros da família e da escola para trocas e vivências, em valorização das manifestações culturais dentro da comunidade. E como estamos falando de identidade, vale lembrar que dentro da unidade, do coletivo, também encontramos as singularidades de cada indivíduo. Por essa razão, é importante ressaltar que mesmo em se tratando de crianças de mesma idade, sempre lidaremos com a heterogeneidade. Seria, portanto, ideal que a tomássemos a favor das aprendizagens. Num grupo com diferentes repertórios em saberes de toda sorte, é importante garantir a circulação de informações e o intercâmbio. Nós, professores, não podemos esquecer que não somos, afortunadamente, os únicos que ensinamos nossos alunos. Felizmente as crianças aprendem muito umas com as outras. Aprendem a escrever, a falar, a desenhar, a desenvolver habilidades motoras e corporais, a enfrentar os problemas típicos da convivência em grupo, adotando pautas de conduta cada vez mais ajustadas. Num clima de respeito e de ajuda mútua pode-se garantir o avanço de todos. Do ponto de vista da sociabilidade, nesta idade as crianças podem crescer e muito a partir da convivência com outras menores e maiores que elas. Podem se associar livremente nos momentos de brincadeira, quando se encontram no parque ou no pátio, mas podem também, com uma ação planejada, experimentar momentos de troca intensos e construtivos – por exemplo, quando são convocadas a ajudar umas as outras na realização de determinada tarefa, a recitar os poemas que sabem de cor, a cantar suas canções preferidas, a expor parte de sua produção, compartilhando saberes construídos dentro da comunidade escolar, por meio de expressão em muitas linguagens (escrita, artes ou exposições orais).
Para adquirir habilidades sociais é fundamental que os conteúdos de natureza atitudinal (normas, valores e atitudes) e os conceituais, factuais e procedimentais tenham igual peso. Desta forma, é possível "aprender a ser na escola", para futuramente "saber ser" fora dela, em sociedade, em outros espaços de socialização.

Do ponto de vista motor e da tomada de consciência sobre seus limites e possibilidades, pode-se trabalhar no sentido de fazer com que as crianças vivenciem e valorizem atividades que ampliem e exercitem suas habilidades motoras, o que é fundamental para a saúde, além de desenvolverem bons hábitos em relação à alimentação e à higiene, que se traduzem em cuidado com o próprio corpo. Devem confiar na sua capacidade de perseverar, de enfrentar e de transpor desafios, com segurança e com o apoio e a ajuda de seus professores – que devem, igualmente, confiar na capacidade de seus alunos. Nos primeiros anos de escolaridade, um componente fundamental na relação que se inicia com o conhecimento e a escola é o auto-conceito. Desenvolver uma auto-confiança e uma alta auto-estima é importante para enfrentar e perseverar diante dos muitos desafios que estar na escola representa. Professores, pais e outros adultos significativos têm papel fundamental, porque são seus retornos – em atos e palavras – que dão à criança a possibilidade de construir uma auto-imagem positiva. A escola pode promover muito mais. Nela, as crianças podem se divertir e aprender muito. Podem ainda "viajar" para outros lugares e culturas por intermédio da leitura de literatura e de outros textos. Podem descobrir que dominar a escrita lhes dá a possibilidade de expressar opinião, defender idéias, se comunicar à distância, de conservar saberes e idéias na memória. Podem se interessar genuína e imensamente pelo mundo dos números, por fenômenos da natureza, pelas artes em geral se os desafios que lhes propusermos forem ajustados às suas possibilidades cognitivas e afetivas e se tiverem a certeza de que estaremos lá, a postos, considerando e valorizando suas experiências pessoais e suas hipóteses, oferecendo ajuda de muitas maneiras. Para isso, é preciso mais do que um currículo. É preciso conhecer características importantes dessa faixa etária e ter bons conhecimentos de didática para obter sucesso nas situações de ensino e aprendizagem. Vontade de conhecer e aprender é o que não falta às crianças de seis anos.
 Texto publicado no livro Buriti 1
(Ensino Fundamental de nove anos),
Projeto Buriti, Editora Moderna.