COMO E POR QUE ORGANIZAR CANTOS DE ATIVIDADES
DIVERSIFICADAS NO 1º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
Prof.
Denise Tonello
Antes de saber mais sobre as
atividades diversificadas, releia o trecho a seguir, da reportagem publicada na
revista Projeto Presente, da Editora Moderna:
As Diretrizes
Curriculares para as crianças de seis anos de idade
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil fornecem elementos importantes para a revisão da Proposta Pedagógica
do Ensino Fundamental, que agora incorpora as crianças de seis anos de idade:
• As propostas pedagógicas para essa faixa
etária devem considerar os aspectos físicos, emocionais, afetivos,
cognitivolinguísticos e sociais da criança, entendendo que ela é um ser total,
completo e indivisível.
• Devem, também, buscar a integração entre
diversas áreas do conhecimento e aspectos da vida cidadã como conteúdos básicos
para a constituição de conhecimentos e valores.
• As estratégias pedagógicas devem evitar a
monotonia, o exagero de atividades acadêmicas ou de disciplinamento estéril.
• As múltiplas formas de diálogo e interação são
o eixo de todo o trabalho pedagógico. Assim, o papel do professor é o de “provocar”,
brincar, rir, apoiar, acolher, estabelecer limites, observar, estimular e
desafiar a curiosidade e a criatividade. É sua função envolver-se com cada
aluno, reconhecendo suas conquistas individuais e as coletivas, sobretudo
as que promovam a autonomia, a responsabilidade e a solidariedade.
• Cabe à escola e aos professores elaborar uma
proposta pedagógica que contemple a organização do espaço e do tempo na escola,
os materiais necessários e as parcerias com a família de cada criança.
Quem
é a criança de seis anos?
A experiência
prática e as pesquisas permitem-nos destacar algumas características marcantes
dessa criança. Imaginativa e curiosa, ela busca conhecer o mundo por meio de
brincadeiras.
Tem capacidade de
simbolizar e compreender o mundo que a cerca, estruturando o pensamento e
fazendo uso de múltiplas linguagens – o que facilita a participação em jogos
que envolvam regras e, por meio deles, a apropriação de conhecimentos, valores e práticas
sociais válidos na nossa cultura. Essa é uma fase crucial na vida da criança,
em que ela constrói sua autonomia e identidade.
As
crianças de seis anos e as implicações para o trabalho pedagógico
Assim, o ideal é pensar
em propostas que integram as diferentes áreas do conhecimento, aliando o que se
ensina às necessidades desta faixa etária.
É importante que o
professor possa conhecer cada aluno, seus avanços e suas dificuldades para que possa
intervir de maneira eficaz. Isso implica um desafio para toda a equipe
pedagógica. Pois não adianta imaginarmos uma organização como a Educação
Infantil, mas, considerando que as crianças têm apenas 6 anos, também não podemos
pensar em um formato de Ensino Fundamental.
É necessário
assegurar que a transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental ocorra
da forma mais natural possível, não provocando rupturas e impactos negativos no
processo de escolarização da criança. Assim, as escolas organizadas pela estrutura
seriada não devem transformar esse novo ano em mais uma série com as
características e a natureza da primeira série tradicional.
O currículo para o
primeiro ano deve ser organizado em três grandes áreas:
• Ciências Sociais e
Ciências Naturais
• Noções
Lógico-Matemáticas
• Linguagem
Para garantir uma
aprendizagem significativa e favorecer um melhor aproveitamento por parte das
crianças é necessário organizar o tempo didático de modo planejado e
intencional. Isso significa que cada proposta de sua rotina com as crianças
deve ser pensada em consonância com os objetivos e necessidades mencionados no
texto acima e em todos os textos indicados para leitura dos módulos anteriores.
De acordo com Délia Lerner,
pesquisadora e educadora argentina, há diferentes modalidades organizativas do
tempo didático. Em alguns momentos, o professor pode trabalhar com atividades
permanentes que
ocorrem dentro de uma regularidade de tempo. Em outros, com projetos ou sequências didáticas, quando geralmente objetiva
abordar conteúdos mais específicos. Há ainda as situações
independentes e ocasionais.
A proposta de atividades
diversificadas é também uma das modalidades de organização do tempo didático em
que, a partir de um leque de diferenciadas atividades oferecidas ao mesmo
tempo, a criança escolhe qual irá realizar.
Esses momentos devem ocorrer
diariamente e costumam durar cerca de 40 a 60 minutos; devem ser cuidadosamente
planejados e organizados de modo a contemplar oportunidades de aprendizagem
para as crianças.
Numa sala de aula com 30 a
35 crianças, fica difícil pensar em conseguir acompanhar o processo de
aprendizagem de cada uma delas. Porém, se garantimos como parte da
rotina, momentos diários em que as crianças realizem atividades diferenciadas
em grupos de cinco a seis crianças, você, professor(a) terá a oportunidade de,
a cada semana, acompanhar as dificuldades e os avanços, além de realizar
intervenções significativas que contribuam individualmente com a aprendizagem
de cada um de seus alunos.
De acordo com uma publicação
da revista Avisalá, “a organização do trabalho deve possibilitar que as crianças
sejam atendidas:
_ Individualmente pelo professor;
_ Em agrupamentos definidos pelo professor
para compartilhar desafios propostos por ele;
_ Em situações nas quais
possam escolher
com quem
trabalhar e quais desafios desejam resolver;
_ Coletivamente em situações de convívio,
brincadeira e sistematização de produções do grupo.
Com essa modalidade de
organização podemos garantir que as crianças vivenciem diferentes situações de
aprendizagem, escolhendo, exercitando a autonomia e buscando conhecer as próprias
necessidades, preferências e desejos ligados à construção de conhecimento e ao
relacionamento interpessoal.
Assim, esse tipo de proposta
tem função decisiva na formação pessoal e social e na construção da autonomia
da criança, uma vez que prescinde de um controle direto do professor. Por outro
lado, permite que ele observe mais atentamente os problemas enfrentados pelas
crianças, suas dificuldades, aprendizagens, gostos e interesses, o que muito o
auxiliará em seu replanejamento.
São várias as teorias, de
educadores renomados, que embasam e justificam as vantagens da organização e
realização de atividades diversificadas. É importante ter clareza, no entanto,
de que tais práticas devem ser inseridas num plano pedagógico mais amplo, ou
seja, não vamos basear nossa prática na visão de um único educador. Mas é
importante você compreender porque algumas das maneiras de organizar a gestão
do tempo e do espaço fazem sentido e quais as teorias que dão sentido ao que
estamos propondo.
Tratando-se da proposta de “atividades
diversificadas” podemos nos reportar a Freinet, Froebel, Piaget e Wallon. Algumas
passagens do texto a seguir foram baseadas num encarte publicado pela revista Nova Escola, da Editora Abril: Os grandes
pensadores da Educação.
Para Wallon, o grupo social é
indispensável à criança, não somente para sua aprendizagem social, mas também
para o desenvolvimento da tomada de consciência de sua própria personalidade. A
confrontação com os companheiros permite constatar que ela é uma entre outras
crianças e que, ao mesmo tempo, é igual e diferente delas.
Nesse sentido, atividades em
que a criança pode se deparar com opiniões diferentes são essenciais para seu
desenvolvimento.
O educador francês Freinet criou recursos como, por
exemplo, as aulaspasseio e os cantos diversificados e temáticos na sala de aula
para atingir um objetivo maior que é o despertar, nas crianças, de uma consciência
de seu meio, incluindo os aspectos sociais e de sua história.
Já o alemão Froebel acreditava que as crianças
trazem consigo uma metodologia natural que as leva a aprender de acordo com
seus interesses e por meio de atividades práticas. Ele combatia o excesso de
abstração da educação de seu tempo, argumentando que tal excesso afastava os
alunos do aprendizado. Adotava, assim, a idéia contemporânea do “aprender a aprender”.
Para ele, a educação se desenvolve espontaneamente. Quanto mais ativa é a mente
da criança, mais ela é receptiva a novos conhecimentos. O caminho para isso
seria deixar a criança livre para expressar seu interior e perseguir seus
interesses.
Isso ocorre quando o
professor organiza situações didáticas em que privilegia o relacionamento com
colegas, objetos, adultos, oportunizando à criança ampliar e reajustar seus
conhecimentos. Propostas diversificadas contemplam também este objetivo.
Finalmente podemos nos
reportar à teoria de Jean Piaget, um dos educadores mais influentes no campo da educação, que
provou na prática um mecanismo que outros pensadores já haviam intuído: de que
o conhecimento se dá por descobertas que a própria criança faz. O aprendizado é
construído pelo aluno e foi essa sua teoria que inaugurou a corrente
construtivista. Educar, para Piaget, é “provocar a atividade” – isto é, estimular
a procura do conhecimento. “O professor não deve pensar no que a criança é, mas
no que ela pode se tornar”, diz Lino de Macedo.
As descobertas de Piaget
tiveram grande impacto na pedagogia, mas, de certa forma, demonstraram
que a transmissão de conhecimentos é uma possibilidade limitada. Por um lado,
não se pode fazer uma criança aprender o que ela ainda não tem condições de
absorver. Por outro, mesmo tendo essas condições, a criança não vai se
interessar a não ser por conteúdos que lhe façam falta em termos cognitivos.
E o que isso significa?
Significa que, nessa faixa etária, a escuta passiva, em que as crianças somente
ouvem informações que são passadas pelo professor, não contribui para a
aprendizagem. Há a necessidade, por mais difícil e trabalhoso que possa
parecer, de planejar situações em que a criança possa agir, refletir,
experimentar, desestabilizar-se e, em consequência disso tudo, ter uma
aprendizagem realmente significativa, pois o professor oportunizou situações em
que ela pôde, de fato, a partir da interação com o meio, com seus colegas e com
o professor, construir seu conhecimento.
Pensando na organização
e em diferentes propostas para as atividades diversificadas:
Este tipo de organização
geralmente já ocorre nas turmas de Educação Infantil. No entanto, no Ensino
Fundamental, é comum o professor acreditar que, o fato de a criança escolher,
não garante que ela faça todas as propostas. Assim você pode pensar que
atividades que precisam ser acompanhadas pelo professor só podem ser propostas
ao mesmo tempo para todo o grupo.
No entanto, há
possibilidades de contratos didáticos prévios em que cada criança se responsabilize
pela realização de todas as atividades.
Uma possibilidade de
organização, então, é combinar previamente com seus alunos quais as atividades
que são “obrigatórias” e quais eles podem escolher. É interessante e importante
que além da possibilidade de escolha, a criança possa também responsabilizar-se
pelas propostas que necessita dar conta, mesmo quando tem maior dificuldade.
As atividades pensadas para
essa faixa etária podem ser as mais variadas e devem estar relacionadas aos
conteúdos trabalhados no momento. Como critério de escolha, você pode sempre
pensar em atividades de:
• Escrita – em que a criança possa
refletir sobre suas hipóteses de escrita a partir de intervenções do professor,
ou a partir da interação com os outros colegas que pensam de maneira diferente.
• Matemática – uma situação problema que
pode ser solucionada em grupo, ou individualmente (e que será retomada numa
roda de correção coletiva, por exemplo, para que as crianças tenham a oportunidade
de explicar como chegaram a determinado resultado), ou um jogo com registro
escrito de números.
• Jogos – que garantam a autonomia,
o respeito às regras, além de conhecimentos relacionados a determinada área
(Matemática, Escrita ou Leitura, Arte etc.).
• Arte – organizar diferentes
possibilidades de fazer Arte (caixa com imagens de obras de Arte, fotografias,
imagens de animais, objetos ou pessoas; caixa com materiais diversos
organizados em estojos ou potes como lápis, giz de cera, canetinhas, lápis
carvão, giz de lousa e giz pastel; caixa com materiais para colagem, como: fita
crepe, colas, tesouras; caixas com tintas variadas: guache, tinta aquarela,
tinta plástica, por exemplo). Esse material não precisa estar sempre todo à
disposição; dependendo da proposta, você pode selecionar o que as crianças irão
utilizar. O mais importante é que haja uma organização prévia e que os
materiais sirvam de referência para criarem ou enriquecerem a própria produção.
• Leitura – dispor diferentes
portadores escritos para que as crianças possam realizar uma pseudoleitura de
poesias que já sabem de cor, de notícias de jornal que já foram lidas nas
rodas, de histórias de repetição que já conseguem recontar, ou de textos
informativos que trazem informações sobre um assunto estudado e em que as
crianças poderão tentar intuir as informações das imagens, ou legendas para que
depois possam ser comprovadas ou refutadas numa leitura realizada pelo
professor, também num momento coletivo.
Estas realmente são apenas
algumas sugestões!
Não há uma rigidez na
organização das atividades! Você pode ter duas atividades relacionadas à Matemática,
ou escrita, ou duas de jogos – uma relacionada ao jogo e a outra, por exemplo,
relacionada à soma dos pontos do jogo vivenciado no dia anterior.
O mais importante de tudo:
lembre-se de que esse será um momento “especial” e você poderá dar uma atenção
mais individualizada a um grupo bem menor de alunos, realizar interferências
mais pontuais e acompanhar o que sabem e o que não sabem, atuando de maneira
mais pontual e conhecendo de maneira mais consistente a cada um de seus alunos.
Sintetizando:
Objetivos Didáticos:
(ou
o que o professor espera que as crianças aprendam)
• Escolher com autonomia
tendo suas decisões respeitadas e apoiadas pelos adultos.
• Realizar ações sozinhas
ou com pouca ajuda do adulto e de outros parceiros.
• Valorizar ações de
cooperação e solidariedade, desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração,
compartilhando suas vivências.
• Relacionar-se com os
outros, adultos e crianças, demonstrando suas necessidades, interesses, gostos
e preferências.
Cantos de Atividades Diversificadas
Conteúdos:
•
Participação em situações de brincadeiras e jogos nos quais pode
escolher parceiros.
•
Participação em situações que envolvam a combinação de algumas
regras e convivência em grupo e aquelas referentes ao uso dos materiais e do
espaço, quando isso for pertinente.
•
Valorização dos cuidados com os materiais de uso individual e
coletivo.
FONTE DE PESQUISA:
• www.ibmcomunidade-kidsmart.com
(para
consultar RCNEI MEC, Parâmetros Curriculares, Manual
da Formação KidSmart Brasil – 2002, Fórum de discussão e demais
materiais de apoio a formação)
• www.institutoavisala.org.br
(para
consultar antigas edições da revista Avisalá)
BREVE SÍNTESE E UMA ATIVIDADE PARA VOCÊ REALIZAR
ORALMENTE, APÓS A LEITURA...
Quando organizamos
atividades diversificadas em sala, contribuímos para o desenvolvimento da
autonomia,
pois a criança tem a oportunidade de escolher a atividade que quer fazer
naquele momento, além de possibilitar que a aprendizagem aconteça a partir da interação e
da ação das próprias crianças.
Se as propostas e os
materiais à disposição estiverem organizados de maneira a favorecer a autonomia, a criança não
necessitará ser dirigida diretamente pelo adulto.
Assim, o professor tem a
condição de supervisionar e acompanhar somente um pequeno grupo de crianças
para interagir e intervir em suas dificuldades e acompanhar, ao longo do
período letivo, as evoluções conquistadas por cada um.
Numa sala com muitas
crianças, pensar em momentos como esses garantem um acompanhamento mais próximo
de cada aluno!